domingo, 3 de novembro de 2013

Saúde, mas pouca!

 
Mais uma notícia para estragar a saúde dos caldenses... As opções de "bom gestor" do Dr. Carlos Sá, em nome dos números factuais que tem em sua posse e que "demonstram" que só se faz uma cirurgia em 7 noites, justificam esta opção. As urgências de Torres Vedras e de Caldas da Rainha, passam a ter menos um clínico geral, nas 24 horas, e menos um cirurgião, entre as 00:00 e as 08:00. O Dr. Carlos Sá esclareceu que "a reorganização das equipas médicas tem por finalidade adaptar a constituição das equipas à afluência de doentes e ao trabalho desenvolvido". Fantástico Dr. Carlos Sá!
Opinião contrária tem a Ordem dos Médicos e muito bem! Esta medida vai poupar algum dinheiro mas "pode levar a situações de pré-ruptura individual e coletiva dos grupos profissionais que estão em causa". Além disso, teme-se ainda que a medida possa "pôr em risco a qualidade do serviço prestado". E o que isso interessa? Para o Dr. Carlos Sá,  "o número de médicos cumpre as recomendações de boas práticas e assegura uma adequada resposta, em cada uma das especialidades, à procura que existe na prática". Fantástico!
A Comissão de Utentes "Juntos pelo Nosso Hospital" também afirmou a sua posição ao destacar que "todos os utentes e profissionais de saúde reconhecem que o serviço de urgência do CHO (Centro Hospitalar do Oeste) é dos serviços com maiores lacunas na qualidade global do serviço prestado, não por responsabilidade dos profissionais que lá trabalham, mas por inadequação dos reduzidos espaços e da organização dos fluxos do trabalho de atendimento dos utentes que chegam às urgências", estando por isso determinantemente contra esta medida da administração do Centro Hospitalar do Oeste.
Pois bem, a destruição do Hospital das Caldas da Rainha continua e o seu autor, o Dr. Carlos Sá a somar vitórias junto do Ministério da Saúde. Nos últimos tempos temos assistido à implementação de medidas que têm trazido prejuízos graves à saúde e às respostas de saúde dos caldenses. Aquele que foi um Centro Hospitalar robusto, hoje vive uma situação de debilidade. O alheamento do Hospital Termal e seu património porque o Dr. Carlos Sá não tem que assinar "os consertos" dos aspersores de rega dos Parque e a insistência de que fechado é que está bem, a fusão com o Hospital de Torres Vedras e o "agora toma lá este serviço e dá cá aquele", os impasses do Hospital de Alcobaça que agora é nosso, amanhã é de Leiria, a interrogação de Peniche, a diminuição dos recursos humanos, tudo tem sido episódios de um final que embora pareça desconhecido, parece ser certo e a razão é só uma, a boa gestão financeira e o bom exemplo do Dr. Carlos Sá que não olha a meios para engrandecer o seu currículo de gestor "top". O Ministério da Saúde agradece tamanho empenho, poupar, poupar, poupar. Eu diria negligenciar, destruir e manipular a saúde dos caldenses, e os caldenses a assistir na plateia, impávidos e serenos...
Perguntas que deixo no ar: 
  • Numa altura em que "uma nova dinâmica" tomou posse e onde surge tão oportunamente o pelouro da "Saúde" na pessoa da Vereadora Maria da Conceição, qual a posição desta face a estas notícias?
  • Embora conhecida a posição da Comissão de Utentes "Juntos pelo Nosso Hospital", quais as medidas efectivas que pensam tomar?
  • Os caldenses pensam reagir a mais este passo de destruição do nosso Hospital ou mais uma vez vão ficar sentados a ver?
Estou desiludido confesso, mas não conformado!

 

9 comentários:

  1. Miguel, ontem à noite voltei à urgência do Hospital Distrital de Caldas, porque mais uma vez o meu pai voltou a ter problemas a que tal obrigaram.

    A confusão, o caos que se vivia naquele serviço era de bradar aos céus...

    Pessoalmente, e em relação ao atendimento realizado ao meu pai (tirando as horas infindáveis de espera que só depois percebi a que ficaram a dever-se...), só tenho o melhor a dizer.

    Contudo, posso partilhar consigo o seguinte: na sala de "amarelos e laranjas" amontoavam-se pessoas à espera de serem observadas por um médico, com triagem já realizada, a qual, descobri ontem (se calhar para si não é um dado novo, mas eu fiquei siderada...) tem uma duração máxima de DOIS MINUTOS POR DOENTE.
    Ou seja, o(a) enfermeiro(a) que está na Triagem dispõe somente de dois minutos para avaliar o doente e "escolher" a cor da pulseirinha com que o decorará, e da qual tudo, daí para a frente, na vida deste, poderá depender... DOIS MINUTOS!!!!

    No interior do serviço de urgência propriamente dito, tínhamos os médicos a tentarem desdobrar-se, multiplicar-se, para chegarem "às capelinhas todas", e conseguirem observar os doentes de Medicina, de Ortopedia (sim, o mesmo médico ia correndo de um gabinete para o outro, consoante a gravidade do estado dos doentes que entravam num ou noutro serviço), porque, pelo que vi, o gabinete de ortopedia estava livre (sem médico lá dentro, portanto...), mas os casos de doentes que necessitavam de serem observados naquele Serviço continuavam a dar entrada...

    No corredor da Urgência, junto ao S.O., Enfermeiros corriam a perguntar uns aos outros e a alguns Auxiliares se alguém sabia onde estava O CIRURGIÃO... daqueles cujas respostas ouvi, ninguém fazia ideia...

    Passados uns momentos, andava um Enfermeiro numa roda-viva, a perguntar se alguém sabia onde estava o aparelho de ECG...
    Perguntava a todos os colegas, novamente Enfermeiros e Auxiliares e, novamente, das respostas que ouvi, ninguém sabia onde parava o bendito aparelho...

    ... E os doentes continuavam a chegar, muitos deles em viaturas do INEM...

    O corropio das pobres médicas que estavam de serviço nos Gabinetes de Observação era uma correria sem fim, porque os doentes eram cada vez mais e o n.º de médicos não era, de todo, suficiente...

    Até a senhora da limpeza era chamada a diversos serviços em simultâneo, e era apenas uma para dar conta da zona completa da Urgência.

    Notável...

    Contudo, dizer que todas as pessoas que encontrei - SEM EXCEPÇÃO - desde Médicas, Enfermeiros e Auxiliares, mantiveram sempre uma atitude da maior correcção, paciência e calma (que remédio...) perante tamanho caos.

    Todos os doentes que vi serem assistidos nos corredores junto ao S.O. foram, sem excepção, extraordinariamente bem tratados, mas...

    E OS MEIOS????

    Como é possível trabalhar-se assim, com os profissionais a verem-se sem meios para trabalharem, quando do seu trabalho pode depender a vida e/ou morte daqueles que lhes estão confiados???

    E ainda querem reduzir mais nos Recursos Humanos???

    Só podem ter ensandecido de vez...

    Ou então querem mesmo matar-nos, mas não têm "what it takes" para o assumirem de viva voz.

    Pela minha parte, estou desiludida, inconformada, revoltada e mais uma série de coisas, com estes "gestores de trazer por casa"...

    E muito grata aos profissionais que, cada vez mais, são obrigados a operarem autênticos milagres, atenta a ausência de meios (e escassez de outros) para darem a necessária resposta às exigências da situação concreta de cada doente...

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    1. Tem toda a razão Sandra. Antes demais espero que o seu pai esteja melhor. Mas as coisas estão assim mesmo. Trabalho com colegas que fazem part-time na unidade e que trabalham na urgência e digo-lhe, valorizo muito as "aventuras" diárias com que se deparam. Efectivamente as condições estruturais, logísticas e materiais são péssimas. Aquilo a que chama gabinetes, não são mais que corredores de passagem onde a privacidade não interessa para nada! Sabe que uma vez transferi um utente da unidade e que veio a falecer ali, num daqueles gabinetes, onde valeu eu ter encontrado um biombo para pôr na frente e ficar ali de mão dada com a senhora, dizendo-lhe apenas para não ter medo e para partir em paz... Pormenores de um sítio sem condições nenhumas e que em nada foi projectado para dar resposta ao número interminável de doentes diários que ali procuram uma resposta! Mas a aposta é em reduzir ainda mais os recursos humanos. Sabe Sandra, jamais desejaria o mal a alguém, mas se o Dr. Carlos Sá precisasse de cuidados naquela urgência (nunca recorreria àquele serviço), devia deparar-se com os problemas com que todos os utentes se deparam!
      De felicitar sem dúvida os profissionais que diariamente travam batalhas para conseguirem, com os recursos que têm, responder às necessidades de quem recorre!
      Obrigado pelas suas palavras Sandra!

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    2. Miguel, aquilo a que eu chamo de gabinetes são, efectivamente, corredores de passagem... "Gabinete de Observação" é a inscrição que encontramos na parede do lado exterior, mas podiam ter-lhe chamado qualquer outra coisa...
      A privacidade é, de facto, inexistente, o mesmo sucedendo com a "Sala de Tratamentos" sita no corredor do SO... Tem uma cortina de correr, mas temos que ter cuidado ao corrê-la, porque há sempre uma parte do doente e/ou da sala que fica exposta... porque a cortina é curta!!!
      Nem uma porta aquilo tem, sequer...
      A história que conta acerca da senhora que veio a falecer num desses "Gabinetes" trouxe-me à lembrança um episódio que se passou comigo ontem: Enquanto o meu pai estava a ser assistido na dita "Sala de Tratamentos", eu fiquei do lado de fora da cortina, portanto, no corredor de passagem.
      Enquanto aguardava que tratassem do meu pai, um Auxiliar passou por mim, manobrando uma maca, na qual ia deitado um senhor idoso.
      Ao cruzarem-se comigo, o idoso que ia na maca tentou agarrar-me uma mão, com delicadeza, e balbuciou algumas palavras dirigidas a mim.
      Não consegui entender o que o senhor tentava dizer-me, e pedi ao Auxiliar o favor de parar a maca por uns segundos, para que eu pudesse falar com o idoso.
      Assim aconteceu.
      O senhor, esse mesmo idoso, estendeu a mão para mim e eu segurei na dele.
      Olhei-o nos olhos, e o olhar dele era de pânico... o senhor estava aterrorizado.
      Perguntou-me o que lhe tinha acontecido, ao que eu, naturalmente, não sabia responder.
      Mantive-me uns segundos a fazer-lhe festas na mão, a tranquilizá-lo, a explicar-lhe que ele estava no Hospital de Caldas e que estava muito bem entregue, que não se assustasse...
      O Auxiliar explicou-me que iam fazer-lhe um Raio X...
      E eu, nunca largando a mão do senhor, lá lhe disse que estava tudo bem, que ele estivesse tranquilo, que iam só fazer-lhe uma radiografia, e que tudo ia correr bem...
      O senhor pareceu-me ter serenado um pouquinho, com o gesto, com a tranquilidade com que falei com ele...
      Libertei-lhe a mão com toda a gentileza, disse-lhe "até já", e ele lá foi, na maca, com o Auxiliar que o acompanhava e que, de resto, é uma pessoa de trato e profissionalismo extraordinários.
      São estas pequeninas coisas que por vezes estão ao alcance de qualquer um de nós, e às quais muitas das vezes não damos o respectivo valor.
      Uma palavra de encorajamento, um gesto de carinho, a transmissão de serenidade a quem está sozinho ou se sente sozinho pode fazer tanta, mas tanta diferença... para quem recebe, mas também para quem dá.

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    3. Sem dúvida Sandra! A isso chama-se humanização dos cuidados. Não censuro os meus colegas por não terem esclarecido esse senhor, aliás a Sandra contatou com o caos que é aquele serviço. Censuro sim são as condições e estes cortes cegos que implicam esta falta de humanização nos cuidados, e deterioração da qualidade dos mesmos... como esse senhor, o facto de estar esclarecido implica menos ansiedade e maior adesão aos cuidados. E isso acontece diariamente não por culpa dos profissionais, mas por culpa destes gestores que só contam dinheiro e não contam o bem estar dos profissionais/utentes. Enfim de lamentar!

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  2. Nem sei se algum dos seus colegas chegou a falar com o senhor... pode ter vindo directamente do gabinete médico ou não ter perguntado a ninguém antes de me perguntar a mim... isso não sei.
    Agora, que as pessoas estão sem condições para trabalharem e todos pagam por isso - profissionais e doentes - é inegável.
    O que não compreendo, mais do que o facto de fazerem cortes cegos, é como as pessoas que os fazem não são responsabilizadas na exacta medida dos danos que causam à vida e saúde das pessoas, decorrentes desses cortes e de gestão irresponsável e irracional...

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    1. Sandra, o que interessa a opinião dos profissionais e dos utentes? Umas palmadinhas nas costas do Dr. Carlos Sá e um "bom trabalho", por parte do Ministério da Saúde é que é importante...

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    2. Miguel, então e se houver algumas vantagens a acrescer às "palmadinhas", tanto melhor... Isso sim, será sinónimo não de um "bom trabalho", mas de um "excelente trabalho", porque todos os que lhes interessam saíram a ganhar... Que náusea...

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  3. :)
    Não creio que seja suficiente... alivia a náusea e o vómito, mas não ataca as causas dos mesmos...
    Preciso de algo mais eficaz, mas que actue nas causas (a montante), para evitar ter que combater os efeitos (a jusante)...
    Para mais, a administração de metoclopramida por um período superior a 5 dias é desaconselhada, e não creio que esse prazo seja suficiente para resolver em definitivo as causas... :(

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