In Jornal das Caldas, 01/01/2014
O alcoolismo não só
constitui um problema gravíssimo de dependência por uma substância, o álcool,
mas as alterações que provoca constituem um factor de risco para a ocorrência
de acidentes domésticos, laborais e de condução, violência, abusos e
negligência infantil, conflitos familiares e incapacidade prematura. De acordo
com a OMS, o alcoólico é todo o indivíduo a quem o consumo excessivo de álcool
afecta o estado físico, a sua economia e o seu ambiente familiar e social.
Porém, o consumo excessivo de álcool numa só ocasião, não torna essa pessoa
alcoólica, contudo pode ter consequências sérias para a saúde de quem bebe e
para terceiros. Uma percentagem elevada de acidentes de viação é causada por
condutores que se embriagaram numa ocasião apenas.
São factores que
contribuem para o desenvolvimento desta dependência no indivíduo: antecedentes
pessoais e história familiar de alcoolismo, integração em famílias/meios
sociais propensos ao consumo de álcool, situações imprevisíveis de rotura na
vida quotidiana e distúrbios emocionais como a depressão e ansiedade. Nos
jovens, faixa etária onde o consumo de álcool tem aumentado cada vez mais, os
conflitos entre os pais, história de hiperactividade na infância, dificuldades
de adaptação à escola e de aprendizagem, necessidade de emancipação e afirmação
de papéis entre os pares, podem ser factores que predispõem ao aumento do
consumo de bebidas alcoólicas.
O forte desejo de
consumir uma bebida alcoólica, a dificuldade em controlar o consumo, sentir
sinais físicos de abstinência quando se deixa de beber, aumento progressivo das
quantidades ingeridas e o abandono progressivo de prazeres ou interesses
alternativos em favor do álcool são indicadores da dependência do álcool.
O excesso de álcool em
circulação no sangue provoca um estado de excitação
psíquica, com euforia, diminuição da tensão e ansiedade e anulação de
inibições, perda de capacidades intelectuais, inibição da atenção e alterações a nível dos
movimentos, náuseas e vómitos, podendo levar a um estado de coma ou mesmo morte.
O consumo de bebidas alcoólicas, a longo prazo, pode levar a danos permanentes
em órgãos vitais como o cérebro, o coração e o fígado.
O tratamento varia em função do grau de dependência e do estado
de saúde geral do doente. Quanto mais cedo o alcoolismo for diagnosticado,
maiores são as probabilidades de sucesso do tratamento e da recuperação. O
tratamento com medicamentos, sobretudo na fase de abstinência, é necessário,
contudo as psicoterapias desempenham um papel fundamental no tratamento e na recuperação.
A participação em programas de recuperação e em grupos de auto-ajuda constitui
um apoio muito importante para a recuperação e para o bem-estar do alcoólico.
Tal como outras dependências, não existe cura. O alcoólico pode manter-se
sóbrio por um longo período de tempo, mas isso não significa necessariamente
que esteja curado. O risco de recaída mantém-se e por isso é uma doença
crónica, mas lembre-se
que apostar na prevenção é ganhar qualidade de vida!
Enfermeiro Especialista
Miguel Miguel
Para sugestão de temas / esclarecimentos:
miggim@sapo.pt
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