segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sarampo, obrigado papás!

In Jornal Público 17/04/2017

Infelizmente uma doença considerada erradicada do nosso país, volta a constituir-se numa epidemia com consequências imprevisíveis para a nossa população. As notícias repetem-se com o número de casos a subir de dia para dia.
A culpa desta epidemia? Essencialmente à não vacinação das crianças! Aliás o caso que infectou profissionais de saúde do Hospital de Cascais, partiu de uma criança não vacinada. Quando sabemos que a vacina tem uma taxa elevadíssima de eficácia é pura negligência por parte dos pais a não vacinação das crianças. É o que eu chamo de "papás alternativos" que devido a "manias" não fundamentadas cientificamente que diabolizam as vacinas optam pela não vacinação dos filhos e depois assistimos na propagação de um vírus altamente contagioso e de difícil controlo.
Ora tratando-se de um caso de saúde pública, pondo em risco a saúde e mais grave, a vida da população, a vacinação contra o sarampo deveria ser obrigatória, não tendo os pais qualquer direito ou superioridade legal para o impedir. Com a saúde não se brinca, os gastos inerentes ao controlo destes surtos são elevadíssimos e conter uma epidemia destas canaliza meios que deveriam estar disponíveis para dar outras respostas.
As vacinas foram, são e serão a melhor forma de prevenção de doenças contagiosas e permitem o contacto das nossas defesas com os micro organismos inactivados evitando a infeção ou se a mesma ocorrer, com efeitos mínimos, dando às nossas defesas capacidade para debelar rapidamente a infeção. Estes novos "papás alternativos" que recusam vacinar os seus filhos por motivos não fundamentados cientificamente em nome dos efeitos secundários nefastos que consideram as vacinas terem, apenas contribuem para uma epidemia de uma doença erradicada no nosso país!
Mas a saúde de toda a população não pode ser posta em causa por correntes alternativas que consideram as vacinas prejudiciais à nossa saúde quando são as vacinas que permitiram construir uma sociedade com menos morbilidade e mortalidade! E a pena é ainda não se ter descoberto vacinas para tantas outras doenças infeciosas!
Penalizem-se estes "papás alternativos", retire-se a guarda das crianças temporariamente se for necessário para a vacinação se os pais não quiserem tal como se faz para um procedimento médico em que os pais não autorizem, mas em que esteja em causa a integridade e a saúde da criança. Neste caso, não é só a saúde da criança, mas a saúde de toda a população! Parece radical mas quando questões básicas de saúde são negligenciadas, não há como facilitar!
Felizmente a DGS admite que esta epidemia fique circunscrita rapidamente! Esperemos que sim!

O SARAMPO
É uma das infeções virais mais contagiosas, transmitindo-se de pessoa a pessoa, por via aérea através de gotículas ou aerossóis. As pessoas adquirem o sarampo principalmente ao inalar microgotas de uma pessoa infetada que se encontram em suspensão no ar depois de terem sido expelidas pela tosse. O vírus responsável pelo sarampo é o Morbillivirus e o Homem é o único hospedeiro.
O tempo de incubação da doença é de 8 a 13 dias. Assim, é possível ser-se portador do vírus sem saber. 
Os sintomas iniciais do sarampo são:
  • Febre
  • Congestão nasal
  • Irritação na garganta
  • Tosse seca
  • Vermelhidão dos olhos
Após 2 a 4 dias surgem minúsculas manchas brancas (manchas de Koplik) na boca, nem sempre detetáveis.
Ao fim de 3 a 5 dias, o sarampo causa uma erupção na pele associada a comichão ligeira, sobretudo nas orelhas e no pescoço, com um aspeto de superfícies irregulares, planas e vermelhas que rapidamente vão crescendo. Essa erupção espalha-se para o tronco, braços e pernas, e começa a desaparecer do rosto.
No pico do sarampo, o doente sente-se muito prostrado, a erupção é extensa e a febre pode ultrapassar os 40º C. Ao fim de 3 ou 5 dias, a temperatura diminui, os sintomas aliviam e as manchas restantes desaparecem rapidamente.
Nas crianças saudáveis e bem nutridas, o sarampo raramente é grave, no entanto, pode complicar-se com infeções bacterianas como uma pneumonia (sobretudo nos bebés) ou com uma infeção no ouvido médio. A infeção cerebral (encefalite) é uma complicação grave que ocorre em cerca de 1 em cada 1000 ou 2000 casos, causando febre alta, convulsões e coma, normalmente entre 2 dias e 3 semanas depois de a erupção ter aparecido. Esta encefalite pode ser breve, recuperando ao fim de aproximadamente uma semana, ou pode causar danos cerebrais ou até a morte.
Não existem medicamentos específicos para tratar o sarampo. O objetivo do tratamento é proporcionar conforto e alívio até os sintomas desaparecerem, o que demora cerca de 2 a 3 semanas. É importante controlar a febre e as dores musculares, recorrendo a paracetamol ou ibuprofeno, repouso, ingestão de muitos líquidos, uso de humidificadores para alívio da tosse e suplementação em vitamina A. Se surgir uma infeção bacteriana secundária, deverá ser prescrito um antibiótico.
A vacina contra o sarampo é uma das imunizações que se aplicam sistematicamente na infância, geralmente em conjunto com a vacina da papeira e da rubéola. Presentemente, recomenda-se a 1ª dose desta vacina aos 12 meses e a 2ª dose aos 5-6 anos, antes da escolaridade obrigatória.

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